Amendoim com Limão

Ontem nosso apê recebeu o primeiro hóspede através da DogHero. O Amendoim é um bebê de seis meses; ele passou o dia aqui com a gente e se divertiu muito com o Limão. Nosso crianço adora brincar de lutinha e não foi diferente com o Amendoim.

Na parte da tarde deixei os jobs um pouco de lado e passei a mão na câmera pra acompanhar alguns momentos da brincadeira. O resultado você confere aqui embaixo. Só não vale assustar com os dentes dessas duas ferinhas! Hahaha…

Volte sempre, Amendoim! ❤️

O ponto

Talvez Antônio morra amanhã. Talvez hoje. Ou depois de sua mulher, Maria. Mulata humilde, porém forte, guerreira e cheia de fé. Exímia dona de casa, não tira seu avental bordô, manchado pelo uso contínuo. O casal passou a vida inteira tentando construir um caminho feliz, mas o tempo é inimigo dos dois. De todos. Sempre foi. Há quem diga que é preciso se juntar a ele para não ser boicotado por suas aflições.

Naquele dia, Antônio se distraiu com uma joaninha pousada ao lado da rosa artificial da esposa, que há 20 anos embeleza a janela do pequeno quarto, poluída pelo tráfego. Percebe os pontinhos pretos combinando com os três pares de patinhas miúdas, bolinhas suaves no cardigan vermelho. Queria ser como ela: sem preocupações, dívidas para pagar e inúmeras obrigações a cumprir sem tempo para respirar.

Quarta-feira. Sentado no ponto de ônibus azul recém-construído, se pergunta por que o motorista do transporte público estava cinco minutos atrasado. Olha para o relógio e, quase sem querer, calcula a quantidade de carros que passa pela principal avenida da cidade por segundo: média de três. Ah, aquela famosa avenida por onde já transitaram tantos trabalhadores perdendo a hora, ou perdidos por ela.

O 543 aponta lá na esquina e Antônio vê. Com a malinha de couro na mão esquerda, herdada pelo pai, o homem baixo, moreno e de poucos cabelos se levanta e estica o braço direito para não correr o risco de ter de esperar a próxima condução, dali a 20 minutos. Pensa na mulher, que ficara em casa lavando roupas. Como ele a amava. Haviam construído uma família sólida: três filhos e um cachorro.

Ludibriado pelos pensamentos afetivos, não sentiu quando o Porsche preto e embriagado avançou o sinal às 6h05 e subiu a calçada do ponto sem hesitar. Acertou em cheio o pequeno sobrado de Antônio, e de Maria. Derrubou tudo o que ainda poderia ser criado ou pelo menos reformado pelos dois. Os sonhos ficaram estendidos na calçada, a dez metros dali. Ao desconhecido, que fugiu logo em seguida, nada aconteceu.

Talvez se Antônio tivesse parado para contemplar outras joaninhas, teria se atrasado mais e perdido o ônibus. Talvez se a rosa fosse de verdade e pedisse alguns minutos para ser regada, teria se atrasado mais e perdido o ônibus. Talvez se a vida não fosse tão ingrata. Talvez se o Porsche não estivesse descontrolado. Talvez se o ponto não tivesse sido construído, teria se atrasado mais e perdido o ônibus. Mas não teria perdido a vida.

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Texto de ficção. Exercício de escrita rápida produzido para o curso de pós-graduação em Jornalismo Literário na EPL, em 13 de junho de 2015.

Isabel e Marisa: a força de duas gerações de mães

Catadora de materiais recicláveis há dez anos, Isabel é mãe de oito e avó de mais oito; juntas, ela e a filha sustentam casa com 11 pessoas

Marisa, Isabel e metade dos netos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Marisa, Isabel e metade dos netos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Isabel de Camargo Gaion tem 62 anos e recolhe reciclagem há dez. Mãe da auxiliar de produção Marisa de Fátima Gaion, 36, e de mais sete, divide uma pequena casa com a filha e oito netos, no bairro Engenho Velho, além do filho Luis, de 40 anos. Nascida em Mombuca, a senhora com pouco mais de um metro e meio passou por algumas cidades do interior ao lado do já falecido marido, até que fixou morada em Capivari.

Quando a filha de Isabel se tornou mãe pela primeira vez, há 19 anos, a família vivia em Indaiatuba, mas Marisa trabalhava em São Paulo. “Todo final de semana eu voltava para a casa da minha mãe em Indaiatuba. Foram três anos assim. Eu era babá de uma das filhas da Mara Maravilha”, conta. Com o primeiro marido, teve quatro filhos: Daniela, 19, Adriano, 17, Caio, 16, e Leonardo, 14.

Depois, trabalhou 11 anos numa padaria. Ao separar-se do companheiro, mudou com Isabel para Salto e, na nova cidade, arrumou emprego como doméstica. “Daí o pessoal da padaria montou uma filial em Salto, e eu trabalhei com eles dois anos”, diz a mulher. Lá, foi morar com o segundo marido, com o qual teve mais quatro filhos: Ronaldo, 11, Carlinhos, 10, Tiago, 9 e Jesus, que vai completar 8 anos dia 16.

Isabel e Marisa vivem história real de superação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Isabel e Marisa vivem história real de superação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“A gente ficou um bom tempo junto, uns sete anos. Mas não deu certo, porque ele começou a bater em mim e nos meus filhos.” Na época, Marisa morava na Vila Izildinha, já em Capivari. Segundo ela, os inúmeros boletins de ocorrência nunca deram resultado. As agressões só pararam depois que os vizinhos, juntos, fizeram com que o homem pagasse na mesma moeda.

Após a separação, a filha de dona Isabel decidiu morar com a mãe. O ex-marido, recorda, pagou pensão por um breve período. “Mas aí a mãe dele morreu lá no Norte e ele foi pra lá dividir os bens. Naquele ano eu catava reciclagem com a minha mãe e o meu caçula tinha nove meses. Cadê que ele falou ‘toma uma caixa de leite pro nosso filho’?”

Passados dois anos, o ex-genro de Isabel voltou a dar as caras. “Eu estava fazendo faxina na casa da vizinha. Ele veio num sábado e levou as crianças para o bar. Daí eu fui lá, trouxe os meninos de volta, chamei a polícia e pedi a ele que nunca mais aparecesse na minha porta. Desde então, nunca mais veio. E nunca mais quis saber se as crianças estão vivas, se estão precisando de alguma coisa. Eu também não vou atrás. A consciência é dele”, dá de ombros.

Catadora de materiais recicláveis é a matriarca da família Gaion (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Catadora de materiais recicláveis é a matriarca da família Gaion (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Na terra do Leão da Sorocabana, mãe e filha passaram a sustentar a família por meio da venda de materiais reaproveitáveis. Começou com latinhas e logo já recolhiam de tudo. “O médico mandou minha mãe fazer caminhadas, e a pessoa com quem ela andava catava latinha na rua. Daí, minha mãe começou a catar também”, explica Marisa.

Em pouco menos de um ano, a auxiliar de produção parou de ajudar dona Isabel e foi trabalhar de doméstica. Dois anos depois, achou melhor tornar-se diarista, para ter mais tempo com os filhos: levá-los ao médico, à escola etc. Numa das casas, conheceu quem são hoje seus empregadores. “Eu fazia faxina para eles, até que me convidaram para trabalhar na fábrica que estou até agora – uma lavanderia de jeans –, faz três anos”, completa.

Enquanto isso, Isabel continuou nas ruas com seu carrinho, feito pelo vizinho, seu Valdemar. “Já é o terceiro.” Fazia sol ou chuva, a senhora enfrentava as longas subidas e descidas do bairro apanhando reciclagem. “Eu ia até lá pros lados do Chiarini. Às vezes ia meio nervosa, chorando, sozinha. Eu e Deus”, revela a catadora. Segundo ela, o carrinho feito de madeira, quando cheio, é pesado demais. “Jesus do céu.”

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Em Capivari, mãe e filha começaram com latinhas e logo já recolhiam de tudo (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

No entanto, há um ano a mulher deixou de ir tão longe. “Ela está meio adoentada”, conta Marisa. Hoje, dona Isabel passa recolhendo materiais recicláveis até num raio de, no máximo, 300 metros. Em compensação, os doadores fiéis levam o lixo reciclável até ela. “Tem um homem que traz bastante. Ele deixa aquela montoeira, sabe? Outra traz lá do Centro. É uma mulher com um ‘carrão’ chique.”

“Até de domingo ela sai pra pegar”, fala Marisa sobre a mãe. “Ela é evangélica. Domingo, eram umas sete horas da noite, tinha gente entregando reciclagem. Ela não sabia se ia à igreja ou se pegava a reciclagem. Então eu falei ‘vá à igreja, né! Eu pego pra você’.”

Mesmo levando uma vida digna, trabalhando intensamente para garantir comida na mesa e educação aos oito filhos de Marisa, há quem destile preconceito contra esta família. “O vizinho da frente disse que não faz festa na casa dele porque tem vergonha da gente. E a que morava aqui ao lado chamou a Vigilância Sanitária uma vez”, afirma a filha de Isabel.

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Ronaldo ao lado da avó e da mãe (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

De acordo com ela, a empresa que recolhe o material separado pela catadora passa a cada 15 dias. Com isso, o órgão fiscalizador “viu que é tudo bagunçado”. “Mas minha mãe não tem culpa. Além disso, não há nada aqui que possa servir de criadouro de bichos ou dengue. Ela cobre tudo com plástico e está sempre de olho”, assegura. E acrescenta que a vigilância constatou não haver nada errado.

Sobre o faturamento da mãe, Marisa diz que é insuficiente para abastecer a casa, a qual está em nome de Isabel e três tios. O setor de reciclagem, alega, está “bem desvalorizado”. Segundo a filha da catadora, as garrafas pet valem mais. O papelão é o mais barato: R$ 0,25 o quilo.

Por outro lado, dois dos filhos já ajudam a sustentar as 11 pessoas que vivem na casinha. Enquanto a mais velha, Daniela, trabalha numa loja de roupas, Adriano, de 17 anos, integra a equipe de produção de uma fábrica relacionada ao mesmo estabelecimento.

Guerreiras, as duas gerações estão diretamente envolvidas com a prática sustentável de reutilizar alguns itens – apenas lixo para a maioria – como matéria-prima para a fabricação de novos produtos. A iniciativa, embora recorrente nos dias de hoje, infelizmente não é a fonte de renda principal destas matriarcas, devido ao baixo preço pago pelos compradores maiores.

E, para completar, Marisa não recebe auxílio do governo federal. Ela cadastrou os filhos no programa Bolsa Família em 2007 e, em 2009, foi contemplada. Porém, um deles faltou muitas vezes à escola no ano passado, fazendo com que todos perdessem o direito ao benefício. “Há pouco tempo fui recadastrá-los, mas a moça disse que agora preciso esperar o encaixe. Eu recebia de cinco filhos. De três sempre ficou pendente, não sei por quê.”

Diagnosticada com 80% de trombose nas duas pernas em razão da quantidade de gravidezes e à genética, está recém-operada. Precisou marcar quatro vezes a operação para, enfim, se ver livre da doença. “Eu ia à Santa Casa de jejum e nada de fazerem a cirurgia. Agora, além dos 15 dias de repouso, o médico me deu uma carta para levar ao INSS, para que eu fique um pouco afastada, porque trabalho em pé, das 7h às 17h.”

Em clima de Copa do Mundo, Marisa lembra que há 12 anos entrou em trabalho de parto durante o jogo que consagrou o Brasil pentacampeão. “A partida acabaria às 11h. Eram 10h quando comecei a sentir contrações. Estava um tumulto que só. Em homenagem, optamos por colocar o nome do meu filho de Ronaldo”, destaca sorridente, chamando para a conversa o menino magro, cuja altura já passa a mãe. “Não é, Ronaldo?”

Quanto à essência da vida, a mãe de Marisa e avó de oito netos aconselha que, independentemente de qualquer coisa, as pessoas precisam ser mais alegres e ter paz no coração. Feliz por viver ao lado da “netaiada”, dona Isabel admite não saber ficar sem eles. “Quando não estão aí, a gente acha falta”, diz. “Se estou triste, vou chegando pertinho da criançada e já me alegro”. O que importa, para ela, é ter uma família unida. “Nesse mundo, todos temos que ser unidos, né?”, conclui a catadora.

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Isabel sai todos os dias pela rua com seu carrinho, feito pelo vizinho, catando materiais recicláveis (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

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Publicada na página 9 da edição 1150 do jornal O Semanário, em 9 de maio de 2014.

Festa da Santa Cruz segue até domingo

Missa de ação de graças, almoço, leilão e jantar marcam o último dia de comemorações em Capivari

Programação reúne eventos religiosos e festivos (Foto: Reprodução)

Programação tem eventos religiosos e festivos (Foto: Celsodc/Creative Commons)

Começou na terça-feira, 22, em Capivari, a tradicional Festa da Santa Cruz. Com eventos religiosos na capela, além de almoços e jantares no Salão Paroquial São Benedito, que fica na Rua Coronel Delfino, os festejos vão até domingo, 27.

A festa deste ano terá missa todas as noites, às 19h. Nesta sexta-feira, 25, haverá a recitação dos mistérios dolorosos e distribuição da eucaristia. No sábado, 26, a missa do tempo pascal acontece na Paróquia São Benedito. Um pouco mais cedo, às 15h, na capela, haverá ainda a benção e unção para os enfermos. A celebração do domingo, 27, também será na Matriz, em ação de graças e agradecimento pela Santa Cruz.

Entre os eventos festivos, será servido jantar todas as noites, com comidas e bebidas típicas de festas da cidade, a partir das 19h. No domingo, às 11h, os apreciadores poderão participar de um leilão de gado seguido de almoço, ao meio-dia, e o jantar, encerrando as comemorações.

Em seu perfil no Facebook, o padre Alcídio Laurindo Filho, pároco da comunidade desde a segunda semana de janeiro, pediu aos fiéis que prestigiem a semana de homenagens à capela. “Espero poder ver e jantar todas as noites com vocês. Por isso, vamos participar fazendo de cada encontro de missa ou festa, um grande sinal de fraternidade”, escreveu.

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Publicada na página 10 da edição 1148 do jornal O Semanário, em 25 de abril de 2014.

‘O resultado apareceu’, diz ex-técnico do campeão paulista

Com o título, Capivariano disputa a Série A1 do Campeonato Paulista em 2015 e garante vaga na Copa do Brasil

Reconhecido pelo trabalho desenvolvido, Piza troca Leão por Bugre (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Reconhecido por seu trabalho, Piza troca Leão por Bugre (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Como todos os capivarianos estão carecas de saber, o último domingo de março, 30, está eternizado na história do Leão da Sorocabana. A vitória de virada por 2 a 1 sobre o campineiro Guarani, no Estádio Municipal Luís Perissinotto, em Paulínia, concedeu ao Capivariano o acesso inédito à Série A1 do Campeonato Paulista em 2015. Foi o primeiro time a subir, com duas rodadas de antecedência.

O gol que garantiu um novo integrante entre os principais clubes do estado foi feito por Rodolfo Bardella, aos 43 minutos do segundo tempo, empatando com o placar aberto por Eduardo Eré. Silas Brindeiro também já havia marcado, aos 46 minutos do início do jogo.

A campanha sólida, traçada em novembro do ano passado com a contratação do técnico Evaristo Piza, cravou o time de Capivari entre os primeiros colocados já na quinta rodada e refletiu em 12 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas, com um total de 29 gols. Um dos clubes de menor investimento (senão o menor), segundo Piza, mas o mais organizado, completa 96 anos em outubro.

Há pelo menos quatro anos, o Leão vem segurando as oportunidades com garras e dentes. Com a chegada do gestor Luís Paulo Santarelli em 2011, o clube conquistou acesso à Série A3. Em 2012, subiu para a A2. Em 2013, o Capivariano ficou a três gols do tão sonhado acesso, adiando para este ano a conquista do principal objetivo: chegar à elite do futebol paulista.

Os cinco mil ingressos disponíveis para a partida decisiva foram vendidos (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Os cinco mil ingressos disponíveis para a partida decisiva foram vendidos (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

No entanto, o Capivariano havia vencido a batalha, mas não a guerra. Faltava fechar o ciclo com chave de ouro, para iniciar 2015 com maestria, colocando medo nos grandes. No sábado, 12, aconteceu então mais uma vitória. Com a casa lotada de torcedores vermelho e branco (abarrotada mesmo: os cinco mil ingressos disponíveis foram vendidos), o time da terra dos poetas sagrou-se campeão paulista da Série A2.

O uniforme comemorativo com as cores da bandeira de Capivari pode ter dado sorte, mas o principal foi a qualidade presente desde o início. Entretanto, há de se admitir que o primeiro tempo não foi dos melhores. Mesmo com Silas abrindo o placar aos 11 minutos – e não muito depois perdendo um pênalti – os torcedores ficaram com o coração na mão até os 40 minutos do segundo tempo.

Isso porque a Itapirense tanto pressionou que empatou a partida aos nove minutos do segundo tempo. Antes e depois do time visitante, o Leão sofreu com ataques contínuos e bobeou no contra-ataque. Vendo o título escapar devido aos resultados de outras partidas que aconteciam ao mesmo tempo, aos 40 minutos, o time chegou ao segundo gol, com George Minatto. E, nos acréscimos, Rodolfo fez o inesperado terceiro, fechando em 3 a 1.

“Alguns jogadores vieram para fortalecer o elenco que permaneceu. Pedimos uma regularidade dentro da competição e fizemos um bom planejamento, jogos-treinos, e o desenvolvimento deles mostra em números a realidade nossa hoje”, comenta Evaristo Piza sobre o bom desempenho da equipe.

Natural de Campinas, iniciou a carreira de treinador no Nippon Bunri University (Japão) e dirigiu nomes como Paulínia, Portuguesa Santista, Primavera de Indaiatuba, Flamengo de Guarulhos, Corinthians B (Sub-20 do Corinthians), Barretos, Velo Clube e Taubaté. Com o sentimento de dever cumprido, Piza foi liberado e fechou com o Guarani para a Série C. Mesmo deixando claro o desejo de voltar à frente do Leão para disputar a elite do ano que vem, o técnico assinou contrato até maio de 2015 com os bugrinos.

Todavia, em entrevista na primeira semana de abril ao jornal O Semanário, havia dito que estava tranquilo quanto às ofertas de outros clubes, e que não tinha vontade de se despedir do Leão. “Não adianta sair por sair. Se estou num lugar organizado, não tem porque eu querer me aventurar em outra situação”, frisou e ainda completou dizendo que o mesmo iria ocorrer entre os atletas, mas que Santarelli saberia “administrar muito bem isso”.

Silas, por sua vez, segue analisando propostas. Sobre o assédio dos times maiores, o artilheiro de um metro e noventa e um diz que é preciso “levar com naturalidade”. “Sabemos que os interesses vão aparecer, as propostas começam a surgir, mas temos que ter os pés no chão e a cabeça no lugar para fazermos a melhor escolha e darmos continuidade ao nosso trabalho”, esclarece.

Silas foi o autor do primeiro gol da partida que garantiu o título ao Leão (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Silas foi o autor do primeiro gol da partida que garantiu o título ao Leão (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Segundo ele, em entrevista ao GloboEsporte.com, Ponte Preta, Vasco e América-MG são alguns dos clubes de olho em seu profissionalismo. Entretanto, a diretoria da Macaca negou qualquer tipo de contato com o atacante e descartou a contratação. De acordo com o codiretor do time, Pedro Nicolau, ninguém conversou com Silas, visto que ele “não é um jogador que faz parte dos planos”.

Para o atacante de 26 anos que marcou nove gols no campeonato – só ficou atrás de Anderson Nunes, do Santo André, com 10 gols – fazer parte de dois momentos históricos para o Capivariano Futebol Clube “é uma sensação única que a gente vai levar pelo resto de nossas vidas”. O jogador, que iniciou a caminhada ainda jovem, aos 18 anos, já jogou pelo Trofense (Portugal), Grasshopper (Suíça), Náutico, Campinense, Brasiliense e Cuiabá.

Do ponto de vista de Piza, contribuir com essas conquistas é gratificante. Para ele, o título é merecido, devido à organização e empenho do clube em todos os aspectos. “É um clube com investimento modesto, mas que cumpre rigorosamente e em dia o que é tratado em termos financeiros”, conta. De acordo com o treinador, os jogadores são bem amparados. “Eles têm boa alimentação e condição para que desenvolvam o que mais sabem fazer. Então, fica fácil. Facilita nosso trabalho dentro do campo”, enaltece.

Jogadores do Leão durante treino no Estádio Carlos Colnaghi (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Jogadores do Leão treinam no Estádio Carlos Colnaghi (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Afirma, ainda, que o incentivo da torcida foi fundamental. “A cidade abraçou o time desde o primeiro jogo. Querendo ou não são 95 anos de existência, e a primeira vez na Série A1. Acredito que será satisfatório receber grandes clubes do futebol paulista aqui. Pode ocorrer de vir Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e isso para a cidade é uma valorização. Para o clube é muito bom e para os atletas é maravilhoso”, conclui Piza.

A vitória por 7 a 6 nos pênaltis do Ituano em cima do Santos no domingo, 13, define o primeiro jogo do Capivariano na Série A1. O campeão da A2 enfrenta o time de Itu no Estádio Carlos Colnaghi e, se a campanha for tão forte e bem estruturada quanto esta última, o Leão da Sorocabana tem tudo para se manter na elite.

Questionado sobre as dificuldades enfrentadas este ano, Piza garante que praticamente não houve. “Foi muito tranquilo. A gente planejou, iniciou, trabalhou. Não tivemos nenhum problema extracampo, de atletas. Teve trabalho, intensidade e comprometimento do grupo. Com isso, o resultado apareceu.”

O Capivariano é uma das equipes mais antigas da Região de Sorocaba, antigamente abastecida pela companhia Estrada de Ferro Sorocabana. A linha ligava a capital ao oeste do estado, chegando até à divisa com o Mato Grosso. Nos anos 50, o clube montou um verdadeiro esquadrão e se tornou praticamente imbatível nos campeonatos do interior, vencendo 32 títulos zonais.

O desempenho deu origem ao Leão da Sorocabana, apelido pelo qual é conhecido até hoje. Porém, o primeiro título profissional da equipe aconteceu há exatamente 30 anos, após a conquista da terceira divisão, em 1984. Para o presidente do time, Osvaldo Riccomini, a Série A2 do Paulista é uma das competições mais difíceis do futebol brasileiro.

Presidente do Capivariano, Osvaldo Riccomini (à direita), recebe taça das mãos do presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Bastos (Foto: Leonardo Britos/FPF)

Osvaldo Riccomini (à direita), recebe a taça das mãos do presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Bastos (Foto: Leonardo Britos/FPF)

“Só tenho que me alegrar por este fato inédito. Montamos uma equipe no começo do ano que sabíamos que tinha capacidade de trazer o título para a cidade. Graças a Deus conseguimos conquistar nossos dois principais objetivos”, declara Riccomini. Além do acesso e da taça, os resultados também garantiram ao Capivariano uma vaga na Copa do Brasil de 2015.

Agora, o time precisa se preparar para o ano que vem, a fim de lutar com a mesma “garra e a força do Leão”. Aos torcedores, fica a missão de acompanhar com ainda mais pensamentos positivos, boas vibrações e sorriso no rosto, afinal, ao que tudo indica, bons ventos sopram a favor do esporte capivariano. – “E a torcida vibra delirante, caminhando com você por toda parte”. É hora de colher os frutos.

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Publicada na página 9 da edição 1147 do jornal O Semanário, em 18 de abril de 2014.