23/01/2016 12h39 - Atualizado em 23/01/2016 14h31

Mães denunciam maus-tratos na Fundação Casa de Piracicaba, SP

Grupo relatou violência contra internos na Defensoria Pública de São Paulo.
Segundo elas, adolescentes estão apanhando dos funcionários da unidade.

Do G1 Piracicaba e Região

40 menores fugiram da Fundação Casa em Piracicaba (Foto: Claudia Mourão/EPTV) Menores fugiram da Fundação Casa de Piracicaba
no dia 14 (Foto: Claudia Mourão/EPTV)

Dez mães de internos da Fundação Casa de Piracicaba (SP) procuraram a Defensoria Pública do Estado de São Paulo para denunciar maus-tratos sofridos pelos menores na unidade. Segundo elas, os adolescentes que cumprem medida socioeducativa na instituição são constantemente agredidos por funcionários do local. Elas também relataram alimentação inadequada e quartos superlotados.

A instituição, por sua vez, esclareceu que a Corregedoria Geral da Fundação investiga, em sindicância, todas as circunstâncias que levaram à fuga de 33 adolescentes do Casa Rio Piracicaba, localizado no bairro Vila Areião, na quinta-feira (14).

A mobilização das mães ocorreu no dia 19 de janeiro, cinco dias depois da fuga. Até o momento, 26 jovens foram recapturados, de acordo com a instituição. As mulheres disseram que a rebelião ocorreu porque um dos adolescentes foi agredido por um funcionário no refeitório da unidade.

"Foi na hora do almoço. Um dos menores pediu um pouco de 'ketchup' para um agente, mas ele falou que não ia dar, pegou o prato de comida e arremessou na cara do menino", contou a mãe de um dos adolescentes, a auxiliar de limpeza Maria Ivete dos Santos Rodrigues, de 45 anos. “Os meninos se revoltaram. Por isso que aconteceu aquela bagunça”, justificou.

Ivete disse que o filho não estava entre os garotos que fugiram da unidade, no entanto, ela garantiu que todos os menores da Fundação Casa estão sendo punidos igualmente. "Tiraram os colchões deles, colocam nos quartos só da meia-noite às 6h; batem neles depois que a gente vai embora", acrescentou. "Meu menino não fala, mas eu vejo que ele está triste. Está acontecendo muita coisa errada lá dentro."

A Defensoria Pública informou que o advogado responsável pelo caso, Octavio Augustus Cordeiro, já colheu o depoimento dos jovens supostamente agredidos por funcionários da Fundação Casa e irá avaliar os relatos das mães, a fim de adotar as medidas necessárias.

Entretanto, a instituição informou que, em todo o período de funcionamento do centro socioeducativo de Piracicaba, a Fundação Casa não recebeu qualquer denúncia sobre maus-tratos praticados contra os adolescentes atendidos no local.

"Causa estranhamento as denúncias surgirem após a fuga, até porque Casa Rio Piracicaba recebe constantemente visitas correcionais do Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública, que até hoje não haviam apontado qualquer irregularidade, especialmente situações que envolvam violência física e psicológica", disse, em nota, a Fundação.

Adolescentes abriram buraco para fugir da Fundação Casa em Piracicaba (Foto: Reprodução/EPTV)Adolescentes abriram buraco para fugir da Fundação Casa em Piracicaba (Foto: Reprodução/EPTV)



Agressões
Outra mãe, entretanto, que não quer ser identificada, disse que o filho já relatava agressões anteriores. "Acontece desde quando ele entrou", frisou. Ela contou que, quando visitava o menor na unidade, aos domingos, ele sempre estava com hematomas.

"Eu chegava lá e via meu filho machucado, com a barriga toda dolorida por causa de levar socos, além de tapas no rosto", completou. "Até que eles não aguentaram mais e fizeram a rebelião."

Uma terceira mãe, que também quis ter a identidade preservada, está revoltada com a situação. "Ele está lá para ser educado. Por que não colocam uma câmera dentro da Fundação? Eles falam que os adolescentes estão mentindo que eles batem, então deveria ter uma câmera para ver a verdade", sugeriu.

"Já tiraram o colchão e a coberta deles, os meninos ficam sentados no chão o dia inteiro. A refeição era três vezes por dia, agora cortaram também. Eles jogam marmitex no quarto e eles têm de comer igual porcos", comparou Ivete. "E agora estamos sabendo que os meninos que fugiram serão transferidos para São Paulo. A gente não quer isso", finalizou.

Outro lado
A Fundação informou em nota que, no momento da fuga dos 33 jovens, o centro socioeducativo se encontrava em sua capacidade, com 64 adolescentes. "No dia seguinte à ocorrência, todos os jovens até então recapturados e aqueles que permaneceram no Casa retornaram normalmente aos quartos, tanto na internação quanto na internação provisória, que recebem até cinco adolescentes por dormitório."

Em relação às punições por meio dos cortes nas refeições e dos colchões, a Fundação Casa negou as acusações. "A alimentação dos adolescentes é fornecida por empresa terceirizada, com acompanhamento realizado por nutricionista da instituição. Os colchões, por sua vez, ficam dentro dos dormitórios e são utilizados pelos adolescentes no período de descanso noturno - das 21h às 6h", concluiu.

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