‘O resultado apareceu’, diz ex-técnico do campeão paulista

Com o título, Capivariano disputa a Série A1 do Campeonato Paulista em 2015 e garante vaga na Copa do Brasil

Reconhecido pelo trabalho desenvolvido, Piza troca Leão por Bugre (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Reconhecido por seu trabalho, Piza troca Leão por Bugre (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Como todos os capivarianos estão carecas de saber, o último domingo de março, 30, está eternizado na história do Leão da Sorocabana. A vitória de virada por 2 a 1 sobre o campineiro Guarani, no Estádio Municipal Luís Perissinotto, em Paulínia, concedeu ao Capivariano o acesso inédito à Série A1 do Campeonato Paulista em 2015. Foi o primeiro time a subir, com duas rodadas de antecedência.

O gol que garantiu um novo integrante entre os principais clubes do estado foi feito por Rodolfo Bardella, aos 43 minutos do segundo tempo, empatando com o placar aberto por Eduardo Eré. Silas Brindeiro também já havia marcado, aos 46 minutos do início do jogo.

A campanha sólida, traçada em novembro do ano passado com a contratação do técnico Evaristo Piza, cravou o time de Capivari entre os primeiros colocados já na quinta rodada e refletiu em 12 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas, com um total de 29 gols. Um dos clubes de menor investimento (senão o menor), segundo Piza, mas o mais organizado, completa 96 anos em outubro.

Há pelo menos quatro anos, o Leão vem segurando as oportunidades com garras e dentes. Com a chegada do gestor Luís Paulo Santarelli em 2011, o clube conquistou acesso à Série A3. Em 2012, subiu para a A2. Em 2013, o Capivariano ficou a três gols do tão sonhado acesso, adiando para este ano a conquista do principal objetivo: chegar à elite do futebol paulista.

Os cinco mil ingressos disponíveis para a partida decisiva foram vendidos (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Os cinco mil ingressos disponíveis para a partida decisiva foram vendidos (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

No entanto, o Capivariano havia vencido a batalha, mas não a guerra. Faltava fechar o ciclo com chave de ouro, para iniciar 2015 com maestria, colocando medo nos grandes. No sábado, 12, aconteceu então mais uma vitória. Com a casa lotada de torcedores vermelho e branco (abarrotada mesmo: os cinco mil ingressos disponíveis foram vendidos), o time da terra dos poetas sagrou-se campeão paulista da Série A2.

O uniforme comemorativo com as cores da bandeira de Capivari pode ter dado sorte, mas o principal foi a qualidade presente desde o início. Entretanto, há de se admitir que o primeiro tempo não foi dos melhores. Mesmo com Silas abrindo o placar aos 11 minutos – e não muito depois perdendo um pênalti – os torcedores ficaram com o coração na mão até os 40 minutos do segundo tempo.

Isso porque a Itapirense tanto pressionou que empatou a partida aos nove minutos do segundo tempo. Antes e depois do time visitante, o Leão sofreu com ataques contínuos e bobeou no contra-ataque. Vendo o título escapar devido aos resultados de outras partidas que aconteciam ao mesmo tempo, aos 40 minutos, o time chegou ao segundo gol, com George Minatto. E, nos acréscimos, Rodolfo fez o inesperado terceiro, fechando em 3 a 1.

“Alguns jogadores vieram para fortalecer o elenco que permaneceu. Pedimos uma regularidade dentro da competição e fizemos um bom planejamento, jogos-treinos, e o desenvolvimento deles mostra em números a realidade nossa hoje”, comenta Evaristo Piza sobre o bom desempenho da equipe.

Natural de Campinas, iniciou a carreira de treinador no Nippon Bunri University (Japão) e dirigiu nomes como Paulínia, Portuguesa Santista, Primavera de Indaiatuba, Flamengo de Guarulhos, Corinthians B (Sub-20 do Corinthians), Barretos, Velo Clube e Taubaté. Com o sentimento de dever cumprido, Piza foi liberado e fechou com o Guarani para a Série C. Mesmo deixando claro o desejo de voltar à frente do Leão para disputar a elite do ano que vem, o técnico assinou contrato até maio de 2015 com os bugrinos.

Todavia, em entrevista na primeira semana de abril ao jornal O Semanário, havia dito que estava tranquilo quanto às ofertas de outros clubes, e que não tinha vontade de se despedir do Leão. “Não adianta sair por sair. Se estou num lugar organizado, não tem porque eu querer me aventurar em outra situação”, frisou e ainda completou dizendo que o mesmo iria ocorrer entre os atletas, mas que Santarelli saberia “administrar muito bem isso”.

Silas, por sua vez, segue analisando propostas. Sobre o assédio dos times maiores, o artilheiro de um metro e noventa e um diz que é preciso “levar com naturalidade”. “Sabemos que os interesses vão aparecer, as propostas começam a surgir, mas temos que ter os pés no chão e a cabeça no lugar para fazermos a melhor escolha e darmos continuidade ao nosso trabalho”, esclarece.

Silas foi o autor do primeiro gol da partida que garantiu o título ao Leão (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Silas foi o autor do primeiro gol da partida que garantiu o título ao Leão (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Segundo ele, em entrevista ao GloboEsporte.com, Ponte Preta, Vasco e América-MG são alguns dos clubes de olho em seu profissionalismo. Entretanto, a diretoria da Macaca negou qualquer tipo de contato com o atacante e descartou a contratação. De acordo com o codiretor do time, Pedro Nicolau, ninguém conversou com Silas, visto que ele “não é um jogador que faz parte dos planos”.

Para o atacante de 26 anos que marcou nove gols no campeonato – só ficou atrás de Anderson Nunes, do Santo André, com 10 gols – fazer parte de dois momentos históricos para o Capivariano Futebol Clube “é uma sensação única que a gente vai levar pelo resto de nossas vidas”. O jogador, que iniciou a caminhada ainda jovem, aos 18 anos, já jogou pelo Trofense (Portugal), Grasshopper (Suíça), Náutico, Campinense, Brasiliense e Cuiabá.

Do ponto de vista de Piza, contribuir com essas conquistas é gratificante. Para ele, o título é merecido, devido à organização e empenho do clube em todos os aspectos. “É um clube com investimento modesto, mas que cumpre rigorosamente e em dia o que é tratado em termos financeiros”, conta. De acordo com o treinador, os jogadores são bem amparados. “Eles têm boa alimentação e condição para que desenvolvam o que mais sabem fazer. Então, fica fácil. Facilita nosso trabalho dentro do campo”, enaltece.

Jogadores do Leão durante treino no Estádio Carlos Colnaghi (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Jogadores do Leão treinam no Estádio Carlos Colnaghi (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Afirma, ainda, que o incentivo da torcida foi fundamental. “A cidade abraçou o time desde o primeiro jogo. Querendo ou não são 95 anos de existência, e a primeira vez na Série A1. Acredito que será satisfatório receber grandes clubes do futebol paulista aqui. Pode ocorrer de vir Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e isso para a cidade é uma valorização. Para o clube é muito bom e para os atletas é maravilhoso”, conclui Piza.

A vitória por 7 a 6 nos pênaltis do Ituano em cima do Santos no domingo, 13, define o primeiro jogo do Capivariano na Série A1. O campeão da A2 enfrenta o time de Itu no Estádio Carlos Colnaghi e, se a campanha for tão forte e bem estruturada quanto esta última, o Leão da Sorocabana tem tudo para se manter na elite.

Questionado sobre as dificuldades enfrentadas este ano, Piza garante que praticamente não houve. “Foi muito tranquilo. A gente planejou, iniciou, trabalhou. Não tivemos nenhum problema extracampo, de atletas. Teve trabalho, intensidade e comprometimento do grupo. Com isso, o resultado apareceu.”

O Capivariano é uma das equipes mais antigas da Região de Sorocaba, antigamente abastecida pela companhia Estrada de Ferro Sorocabana. A linha ligava a capital ao oeste do estado, chegando até à divisa com o Mato Grosso. Nos anos 50, o clube montou um verdadeiro esquadrão e se tornou praticamente imbatível nos campeonatos do interior, vencendo 32 títulos zonais.

O desempenho deu origem ao Leão da Sorocabana, apelido pelo qual é conhecido até hoje. Porém, o primeiro título profissional da equipe aconteceu há exatamente 30 anos, após a conquista da terceira divisão, em 1984. Para o presidente do time, Osvaldo Riccomini, a Série A2 do Paulista é uma das competições mais difíceis do futebol brasileiro.

Presidente do Capivariano, Osvaldo Riccomini (à direita), recebe taça das mãos do presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Bastos (Foto: Leonardo Britos/FPF)

Osvaldo Riccomini (à direita), recebe a taça das mãos do presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Bastos (Foto: Leonardo Britos/FPF)

“Só tenho que me alegrar por este fato inédito. Montamos uma equipe no começo do ano que sabíamos que tinha capacidade de trazer o título para a cidade. Graças a Deus conseguimos conquistar nossos dois principais objetivos”, declara Riccomini. Além do acesso e da taça, os resultados também garantiram ao Capivariano uma vaga na Copa do Brasil de 2015.

Agora, o time precisa se preparar para o ano que vem, a fim de lutar com a mesma “garra e a força do Leão”. Aos torcedores, fica a missão de acompanhar com ainda mais pensamentos positivos, boas vibrações e sorriso no rosto, afinal, ao que tudo indica, bons ventos sopram a favor do esporte capivariano. – “E a torcida vibra delirante, caminhando com você por toda parte”. É hora de colher os frutos.

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Publicada na página 9 da edição 1147 do jornal O Semanário, em 18 de abril de 2014.

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