Doceiras empresárias faturam na Páscoa

Alta dos preços dos ovos industrializados impulsiona opções caseiras

Entre os ovos de colher de Daniele Risso, estão combinações entre Nutella, bombom, Bis, amendoim e confete (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Entre os ovos de colher de Daniele Risso, estão combinações entre Nutella, bombom, Bis, amendoim e confete (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Pequenas empreendedoras encontraram na Páscoa uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro e aumentar a renda familiar durante a época festiva. Apesar da enorme variedade de ovos de chocolate disponíveis nas prateleiras dos supermercados, o consumidor quer mesmo é saber dos caseiros. Sem conservantes e bem mais baratos que os ovos industrializados, são uma opção para quem espera gastar menos e levar um pouco mais para casa.

Em Rafard, as vendas da doceira Tielen Cristina Diniz, 28, aumentaram 25% em relação ao ano passado. “Muita gente boicotou o ovo de mercado porque o preço subiu bastante. A gente vai ao comércio e encontra um por R$ 30, mas são apenas 170 gramas. No caseiro você paga R$ 30 e leva meio quilo”, exemplifica. De acordo com levantamento divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na terça-feira, 15, os preços dos ovos de Páscoa subiram mais que a inflação registrada no ano.

Enquanto os tradicionais doces comemorativos ficaram, em média, 6,78% mais caros em relação a 2013, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da FGV, ficou em 6,09% no mesmo período. No entanto, para Tielen o preço não é o único diferencial dos ovos caseiros. Segundo ela, a certeza de qualidade também é maior, pois “eu sei a procedência do meu produto e posso dar garantias. Se algo acontecer e alguém reclamar, eu troco”, diz.

Nozes e amendoim é o recheio mais procurado, segundo Daniele (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Nozes e amendoim é o recheio mais procurado pelos clientes de Daniele (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Tradicional, chocolate branco, crocante, trufado, de colher. Os modelos e recheios são os mais variados e agradam a todo tipo de consumidor. Mas para Daniele Risso, 25, o importante é investir em personalização. Sem ter feito cursos na área, a doceira usa a imaginação, e ainda sobra tempo para atender aos pedidos mais diversos. “Outro dia uma moça me enviou uma foto e perguntou se eu fazia. Era um ovo de colher com morangos, detalhes em chocolate branco. Nossa. Tinha um monte de coisas”, lembra.

Menta, damasco e figo são alguns dos recheios um tanto quanto incomuns solicitados vez ou outra a Tielen, a qual não possui tabela de sabores. “Fica a gosto do cliente”, declara. A dona de casa, que produz quitutes diversificados ao longo do ano, diz gostar do que faz e tem lucro de 100% nas páscoas. Daniele, por sua vez, conta que faz pela renda, mas também por sempre ter gostado de lidar com doces.

A estudante do último ano de Nutrição se aventura na cozinha há pelo menos quatro anos ao lado da mãe, dona Alice, 49. “Eu ajudo minha mãe a fazer os normais, e os de colher faço sozinha”, detalha. Os meio amargos, ou seja, com maior porcentagem de cacau, são a especialidade da casa. “Não gosto muito de utilizar chocolate ao leite. O meio amargo é bem mais saudável”, justifica.

Outra doceira que faz parte do ramo dos ovos de Páscoa é Thelma Elisa Marchioretto, 27. Proprietária da empresa Karamelli Doces e Bolos, conta que suas vendas cresceram aproximadamente 50% em relação ao mesmo período do ano anterior. “Fiz cursos porque sempre gostei. Desde criança fazia bolos, trufas. Fiz também ovos de Páscoa quando era mocinha. Antes era hobbie, hoje é profissão”, ressalta.

O que destaca os ovos da Karamelli são os sabores, garante Thelma. “A maioria ninguém mais na cidade tem”. Entre as opções, estão de café, leite Ninho e crocante com nozes. No caso de Daniele, o recheio dos ovos de colher varia desde os tradicionais de frutas até combinações entre Nutella, bombom, Bis, amendoim e confete.

Com isso, recupera-se o costume de consumir produtos caseiros, artesanais e personalizados, em vez das inúmeras opções cada vez mais industrializadas. Em busca da economia, o “bom, bonito e barato” volta a estar na moda e gera novas oportunidades para empreender no setor.

Sabores incomuns de ovos são o diferencial de Thelma (Foto: Divulgação/Karamelli)

Sabores incomuns de ovos são o diferencial de Thelma (Foto: Divulgação/Karamelli)

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Publicada na página 7 da edição 1147 do jornal O Semanário, em 18 de abril de 2014.

Pio XII: mau cheiro na avenida continua incomodando população

Indagada pela primeira vez há dois anos, Prefeitura nunca acionou a Cetesb, diz agência ambiental

Odor fétido é sentido nas proximidades da entrada do Parque Ecológico (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Odor fétido é sentido nas proximidades da entrada do Parque Ecológico (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Um assunto (nada) resolvido levantado pelo jornal O Semanário em novembro de 2012. O mau cheiro na Avenida Pio XII, próximo à entrada do Parque Ecológico Murilo Ferreira Carnicelli, parece que já faz parte do ambiente. Questionada naquele ano, a Prefeitura de Capivari alegou desconhecer o problema, mas assegurou que já havia comunicado a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) para que fossem tomadas “as providências necessárias”.

Moradores de Capivari e Rafard, no entanto, têm reclamado do odor de origem desconhecida. A professora Regivane Alves, 31, passa todos os dias pelo local. Ela afirma que o mau cheiro “ainda continua horrível”. Para a administradora de empresas Telma Aneas, 40, o odor “é insuportável”. “De manhã, quando passo por lá, chega a revirar o estômago”, conta.

Em entrevista no mês de janeiro deste ano, o prefeito Rodrigo Proença (PPS) garantiu que acionaria a Cetesb, pois já tinha “algumas denúncias na ouvidoria”. Segundo ele, “somente o órgão ambiental pode analisar de onde vem o cheiro da Pio XII e qual é realmente a causa”. “Questões ambientais de baixo impacto são de responsabilidade do município, mas esse caso acredito que é competência da Cetesb. Por isso, iremos acioná-la, e então poderá fazer um levantamento”, explica.

De onde vem o mau cheiro? (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

De onde vem o mau cheiro? (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

A Cetesb, por sua vez, disse que não recebeu “quaisquer comunicados da Prefeitura de Capivari relacionados ao assunto em questão”. Supõe-se, então, que nem no início de 2014, tampouco há dois anos, as investigações foram, de fato, solicitadas pela prefeitura. Porém, para que a “fonte poluidora” seja identificada, a Cetesb pede à população que denuncie os incômodos diretamente na agência de Campinas.

As reclamações podem ser feitas pessoalmente na Rua São Carlos, 277 – Vila Industrial, ou pelos telefones: 0800-113560 (finais de semana, feriados e fora do horário de expediente) e (19) 3772-6600 (horário comercial). Procurada novamente devido à declaração da agência de que nunca existiu denúncia por parte do Executivo, a Prefeitura de Capivari não quis se pronunciar.

“Quando você para no semáforo não dá para aguentar. Imagine as pessoas que moram ou trabalham por ali. Deve ser horrível. Sem contar que ninguém toma providências. Por que será?”, critica o aposentado Pedro Ricomini, 60. Já o auxiliar de produção Rivail Toledo, 38, aponta que o mau cheiro pode ser sentido até mesmo nas imediações da empresa onde trabalha, há mais ou menos 300 metros do portão principal do parque. “Até lá cheira mal”, garante.

Com isso, o tempo passa e as dúvidas permanecem, assim como o problema. De onde vem o mau cheiro? Por que a prefeitura, bem como a Diretoria de Meio Ambiente não assumem uma posição? À população, resta agora reclamar de modo direto à Cetesb, por meio dos canais de atendimento citados, para que, a partir daí, as ações fiscalizatórias sejam de uma vez por todas definidas. Afinal, trata-se de um problema que afeta o bem-estar dos cidadãos e não pode ser deixado de lado como tem ocorrido. Ou pode?

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Publicada na página 9 da edição 1146 do jornal O Semanário, em 11 de abril de 2014.

Amor

O casal com pouco mais de 17 anos passa pela rua parcialmente iluminada por postes alaranjados e enérgicos faróis sem notar ninguém. A morena anda pelo lado esquerdo da calçada sentido Centro, no Pátio Santa Cruz, na pequena e paulista Capivari. Magra, alta e com poucas curvas – as quais talvez apareçam com o tempo –, segue de mãos dadas com a loira, uns dedos mais baixa e gordinha.

As adolescentes são completamente distintas entre si. A morena, de pele quase negra, tem cabelo de menino, crespo, que dá o toque masculino atrelado ao jeans escuro e à camiseta amarela básica. O agasalho branco, porém, segue rebolando sem vergonha na cintura. A loira exibe mechas longas de comercial de shampoo, blusinha e tênis brancos e um quadril largo, realçado pela calça preta de ginástica.

Soltam as mãos e aguardam o sinal dos carros fechar sentido bairro. Enquanto a loira ajeita a calça na cintura, o All Star pink da outra chama a atenção. O semblante de ambas é alegre, despreocupado. Desconectado do mundo. Atravessam a rua pela faixa de pedestre de mãos dadas novamente. Já na calçada mais distante, esticam os braços de modo que a loira encosta levemente o ombro direito na parede da casa de esquina, lilás, e a morena quase tromba na lixeira torta da residência, que repousa com duas sacolas plásticas cheias de alguma coisa descartável – poderia ser o lixo da pia do último almoço.

Riem. A loira, então, balança a cabeça, fazendo charme com o cabelo cor de mel, aparentemente tingido. Riem de novo. Quase dançam. A morena rebola um pouco mais. Estão fazendo graça uma para a outra. Ninguém pode ser visto ou ouvido do universo delas. Na sequência, a loira puxa a morena para mais perto, passando o braço esquerdo por trás do ombro da amante. Por querer, deixa que o membro escorregue até o fim das costas estreitas.

O casal segue se fitando sorridente entre uma gargalhada e outra. Simultaneamente, o amor puro e singelo, café com leite, vai iluminando o caminho escuro daquela noite de quarta-feira, até se perder de vista na curva das reflexões, como aquelas cenas que se fazem necessárias, vez ou outra, para lembrar o expectador do dom da vida, da importância de ser quem se é nesse mundo de gregos e troianos. Porque, no fim das contas, os opostos sempre se atraem.

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Exercício de metáfora produzido para o curso de pós-graduação em Jornalismo Literário na EPL, em 11 de abril de 2015.

Reforma e restauração renovam Paróquia São João Batista

Próxima de completar 190 anos, Matriz terá sua história preservada e parte da estrutura modernizada

Forro da nave central ganhará novos desenhos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Forro da nave central ganhará novos desenhos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Criada há 188 anos e inaugurada por volta de 1890, a Paróquia São João Batista, uma das mais antigas da Diocese de Piracicaba, está sendo restaurada 39 anos depois da última intervenção, feita pelo padre Eusébio Van Den Aardweg, então vigário episcopal da Região de Capivari, falecido em 1993. Depois disso, a igreja recebeu apenas duas pinturas, uma delas supervisionada pelo monsenhor Luiz Simioni, que morreu em 2010, aos 71 anos.

Patrimônio histórico e cultural, a restauração da Matriz está a todo vapor. As missas, que agora estão acontecendo normalmente no local, já chegaram a ser realizadas, conforme necessidade do andamento, no Ginásio Padre Eusébio. Uma equipe de profissionais trabalha para deixar a igreja “novinha em folha”, desde a substituição das madeiras – infestadas de cupins – por gesso, até os mais delicados retoques nos desenhos.

O restaurador Aparecido Luz conta que a parte na qual atua, de restauro do Santíssimo, começou em outubro do ano passado. Trabalhava em casa, com auxílio de uma mesa de desenho, ao mesmo tempo em que outra empresa realizava o serviço de pintura fixa. “Comecei a trabalhar direto no local faz um mês”, comenta.

Segundo ele, a intenção do atual pároco, padre Adalton Demarchi, é “fazer uma restauração quase que geral”, e isso inclui procedimentos no forro, nos altares, nas pinturas cobertas e na decorativa, nos castiçais e em outros objetos, no piso, nas escadas, nas colunas, na iluminação, na parte externa e na praça, além da criação de novos espaços, como a sala de paramentação (local onde padre, ministros, leitores e acólitos se preparam para as missas), por exemplo.

Cido Luz restaura desenho datado de 1928 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Cido Luz restaura desenho datado de 1928 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Para conversar com O Semanário, o restaurador pausou o minucioso reparo que exercia numa tela datada de 1928. “Eu trabalho com aerossol, mas o processo que era feito antigamente chamava-se espolvoro. O camarada desenhava numa lona ou num papelão e depois fazia furos contornando o rabisco. Então, era só posicionar o desenho na superfície e ‘bater’ com um pozinho. O desenho saía todo pontilhado”, relata. “Esta foi feita assim”, garante, apontando os pontinhos na antiga tela em sua mesa de desenho. “Ela é tão rústica que tem até areia.”

Ainda de acordo com Luz, a tinta das paredes da paróquia foi retirada para encontrar a cor original. O processo de raspagem, contudo, ocasionou a descoberta de alguns desenhos. Questionado sobre o estado de conservação do ambiente religioso, o profissional avalia como bom. O problema, segundo ele, “é que foram pintando em cima das pinturas mais antigas”, o que dificulta ainda mais a restauração.

Para ele, o forro da nave central é a parte mais comprometida. “Ali foi até pior, porque pintaram por cima. Não houve interesse em restaurar, foi pintura mesmo. Por exemplo, onde havia a Santa Ceia, a pessoa pintou uma Santa Ceia da maneira dele, e não restaurando a original”, detalha o paulistano, que há mais de 25 anos vive em Mombuca, e há 45 carrega a responsabilidade de restaurar obras importantes para a preservação da memória de suas cidades e povos.

Terminada a primeira fase da restauração, Cido Luz afirma que a obra da igreja tem pelo menos mais um ano de chão pela frente ou até mais. Isso porque a previsão de entrega refere-se apenas à “parte mais grossa”. Ou seja, o restauro do forro, por exemplo, não atrapalhará a rotina dos fiéis. “Fico contente ao ver que as pessoas se interessam em defender obras antigas. O padre chegou falando ‘eu vou fazer’. Ele sabe que é caro, que leva tempo. Mas é agora ou nunca”, admite o profissional.

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Técnica usada na pintura original chamava-se espolvoro (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

De acordo com o padre Adalton Demarchi, essa fase deveria ter sido concluída no dia 28 de março, há exatos dois anos de seu início, mas isso não foi possível. Agora, a previsão foi estendida para o final de abril. Tudo começou em 2011, quando o então pároco, padre Eugênio Broggio Neto, assinou um contrato no valor de R$ 69.200 com a empresa Fato Arquitetura, para a realização de um estudo aprofundado sobre a Matriz de São João.

A partir disso, o Ateliê Julio Moraes Conservação e Restauro desenvolveu o relatório que hoje é utilizado como base pela Audax Construções e demais restauradores. “O relatório contém fotos que revelam como a igreja era. Trata-se de um documento sobre o que seria útil e como seria a restauração ideal, com várias opções. Em cima disso, optamos pelas possibilidades mais viáveis, considerando os recursos disponíveis e o que poderíamos arrecadar”, explica Demarchi.

Segundo o padre, a restauração escolhida não vai trazer de volta o padrão original em todo o edifício “porque não haveria recurso suficiente para isso” e devido à impossibilidade de “recuperar o valor artístico”, visto que a pintura artística foi comprometida pela ação do tempo e pelas pinturas posteriores. No entanto, algumas áreas, nas quais os desenhos se encontram em bom estado, estão demarcadas para futuro restauro.

Até o momento, a obra já custou R$ 635 mil aos cofres da paróquia. Ao longo do ano, está previsto um gasto adicional de pelo menos R$ 152.790, incluindo a última parcela à Audax, após o término do serviço, no valor R$ 115 mil, as 11 parcelas de R$ 3 mil ao ateliê que está trabalhando nas telas da nave central e mais R$ 4.790 referente à conclusão do altar do Santíssimo, cujo trabalho está nas mãos da Kalu Móveis e Artesanato.

“Essa igreja recebeu duas pinturas artísticas. Teve uma primeira e depois uma segunda em cima da primeira. Ao fazermos a decapagem (retirada da tinta das paredes), em certos momentos chegamos à primeira, em outros, na segunda. Onde foram retirados os altares, a segunda pintura mostrou-se de maneira intacta. Em outros lugares, não”, destaca Demarchi.

Adquiridos em agosto do ano passado, o novo equipamento de som será instalado quando todas as paredes estiverem prontas. Além disso, as 25 colunas que sustentam a igreja serão marmorizadas, assim como sua douração superior com folhas de ouro. De acordo com Cido Luz, o restauro de cada coluna leva, em média, 15 dias.

As 25 colunas da igreja serão marmorizadas e os lustres estão sendo substituídos por luzes de LED (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

As 25 colunas da igreja serão marmorizadas e lustres estão sendo substituídos por luzes de LED (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Os arabescos (figuras geométricas geralmente similares às formas de plantas) dos três altares de madeira, compreendendo o do Santíssimo, também passarão por um processo de douração, visando retornar à obra original. Com exceção da douração, que é de responsabilidade de uma artista local que não cobrará pelo serviço, a cada etapa é preciso obter uma nova cotação, a fim de avaliar aspectos importantes como qualidade do trabalho, custo e prazo de entrega.

“Antes de iniciarmos a marmorização das colunas, o Cido e outros três ou quatro artistas farão uma demonstração cada pra gente escolher o melhor”, exemplifica o pároco. Os nichos (pequenos altares) dos corredores laterais, por sua vez, foram reconstituídos pela Marmoraria Shalon e as réplicas dos medalhões ficaram por conta de uma companhia de Piracicaba.

A Matriz de São João teve todos os pisos que não eram originais trocados. Para isso, uma empresa produziu a fôrma, que custou R$ 3 mil e deu origem a 1.458 peças, cada uma no valor de R$ 6. A iluminação também está sofrendo modificações. No lugar dos lustres – acrescidos ao longo do tempo e que não fazem parte da estética primária – a igreja está recebendo luzes de LED.

“Segundo consta na história, essa igreja tinha lustres de cristal. Não vamos fabricar um na tentativa de imitar o que existiu um dia, mas também não vamos voltar ao original, que era aquele tipo de luz que ficava no teto, com um ‘globinho’ redondo em cima, porque não ‘dá’ qualidade de iluminação. Então, optamos por inserir uma mais moderna, que não fique nada pendurado.” Ao mesmo tempo, determinados pontos ganharão luminosidade especial, visando ressaltar alguns desenhos.

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Custo para contratar um restaurador é alto, diz padre Adalton Demarchi (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

As imagens do forro do altar, datadas de 1900 e cujo painel não pode ser retirado do local, serão restauradas futuramente, pois “isso depende de eu ter dinheiro para pagar um especialista. Não é qualquer artista que pode restaurar uma obra original”, explica o pároco. O mesmo acontece com o painel de Santa Cecília, pintado atrás do altar em 1937.

Documentada em catálogo internacional, a obra de Ângelo Simioni só pode ser restaurada por um profissional específico, o que deve representar um gasto até quatro vezes maior em relação às pinturas sem valor histórico. “Não posso dar para qualquer um intervir. Tem de ser um especialista em arte. Não é difícil encontrar. O problema é o custo, porque precisa ser um profissional com registro, sob a pena de perdermos a originalidade da tela”, comenta Demarchi. Além dessa, a paróquia possui outra arte importante, a imagem de São João que está sob o altar. Ela foi criada por um dos irmãos Dutra, que passaram pela região no início do século passado.

Em paralelo às obras de dentro da Matriz, um ateliê está desenvolvendo novos painéis para o forro da nave central – oito rolos de tela. Segundo o padre, os desenhos atuais, feitos em 1975, não têm valor histórico-artístico. Assim, os de 2014 vão imitar o estilo do Dutra, com cores mais leves, seguindo o relatório da restauração e devem ser inaugurados na Páscoa de 2015.

“O estado de conservação da Matriz, em termos gerais, era muito ruim. Só de olhar a parte externa você já tem uma visão clara das coisas. Os anjos estão se deteriorando, porque nunca tiveram tratamento adequado. Agora, vou ter que substituir todos eles. A umidade danificou a parte interna.” Com a reforma, garante, a igreja aguentará mais 50 anos, desde que haja uma manutenção preventiva “de tempos em tempos”.

Anjos da parte externa serão trocados, pois estão se deteriorando (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Anjos da parte externa da igreja serão trocados, pois estão se deteriorando (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Segundo o sacerdote, parte da estrutura estava cedendo e precisou receber calçamento inferior, duas sessões de impermeabilização e substituição das madeiras podres, incluindo 90% do madeiramento do telhado e 100% do ripamento e das madeiras mais finas. A parte elétrica e a fiação também foram trocadas. “Fizemos uma primeira impermeabilização, que foi geral, e voltamos para uma segunda pontual, fazendo a injeção de veneno para matar cupim”, conta.

A primeira fase da restauração da Paróquia São João Batista, afirma o padre Adalton Demarchi, está sendo paga apenas com recursos próprios, que são os resultados das últimas festas (R$ 401.180), as doações dos fiéis (R$ 90.144) e o excedente acumulado em dois anos (R$ 145.895). Porém, atualmente o saldo da Matriz gira em torno de R$ 40 mil, insuficiente para os gastos assumidos.

“A partir de agora, a gente vai começar a desenvolver campanhas de arrecadação direcionadas às empresas da cidade, além de eventos beneficentes, como o Puchero que o Rotary está organizando”, comenta o padre. A venda da “feijoada branca” será realizada neste domingo, 6, com limite de 1.000 ingressos a R$ 30 cada.

Mas o projeto de renovação não se trata apenas da parte interna da São João, embora a lista de coisas que ainda precisam ser realizadas seja extensa. “Lá fora vai ter um prédio orçado em R$ 600 mil”, revela. A ideia consiste em criar um ambiente com fachada reta e entrada pela esquina atrás da igreja, com recepção, secretaria, sala do padre, sempre no andar térreo, para facilitar o acesso, sobretudo dos idosos.

A construção também comportará uma sala climatizada para arquivar os inúmeros documentos da paróquia; uma sala de reuniões; outra para lavar vasos, panos e guardar materiais de limpeza; um local para conservar imagens usadas eventualmente; banheiros masculino e feminino e a sala de paramentação. “Não precisaremos mais atravessar a igreja toda para entrarmos.”

Com isso, uma das mais belas construções da região aos poucos vai se recuperando e avivando a história de Capivari. “Tem gente que olha lá na frente e me pergunta ‘não vai trocar os bancos?’ É claro que não dá para agradar todo mundo, infelizmente, mas tendo a parte física pronta, os detalhes a gente vai acertando com o tempo. Estamos fazendo o possível. E o povo ajuda”, conclui.

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Publicada na página 9 da edição 1145 do jornal O Semanário, em 4 de abril de 2014.

Capivari trata 25% do esgoto produzido

Enquanto isso, Rafard sequer possui tratamento de esgoto

Foto: Laila Braghero/O Semanário

Além de lixo doméstico, Rio Capivari todo o esgoto que não é tratado de nove cidades (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Capivari trata apenas 25% do esgoto que é coletado. Os outros 75% são descartados no rio de mesmo nome, segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). O atendimento com coleta, por sua vez, nem sequer existe em alguns bairros isolados (13% da população), mas de acordo com a autarquia essas residências possuem fossa séptica.

Em Rafard, a situação é um pouco mais alarmante. Não tem tratamento. Segundo a Divisão Municipal de Água e Esgoto (DMAE), há um projeto protocolado junto ao Governo do Estado para a construção de uma estação de tratamento que passará a tratar 100% do esgoto coletado.

Ao mesmo tempo, uma projeção feita pelo Saae de Capivari indica que, futuramente, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Central elevará o percentual de tratamento para 75%. Somada às ETEs do Alto Castelani (em construção) e Porto Alegre (em análise para duplicação), a cidade terá capacidade de tratar 100% do esgoto, porém, a estimativa é que, ao final de 2015, as estações atendam pelo menos 95% da demanda.

O problema de Rafard, que também descarta os resíduos no Rio Capivari, é o mesmo de cidades como Arthur Nogueira, Cosmópolis, Rio das Pedras e Monte Alegre do Sul: nenhuma delas possui sistema de tratamento. Além disso, informações divulgadas no final de 2013 pelo G1 afirmam que 60% dos municípios da região fiscalizados pela Agência Reguladora PCJ (Ares-PCJ) tratam menos de 70% do esgoto que produzem.

Com isso, os rios que abastecem o interior paulista são os mais prejudicados. A nascente do Capivari, por exemplo, é em Jundiaí. Lá, 98% do esgoto é tratado, o que sugere uma poluição quase nula. Entretanto, ao percorrer seu caminho por entre outras nove cidades, cujos percentuais variam, tem sua qualidade comprometida.

De acordo com o banco de dados da Ares-PCJ, Vinhedo, Valinhos e Campinas tratam, respectivamente, 85%, 95% e 85% do esgoto que é coletado. Louveira, Monte Mor e Elias Fausto não são fiscalizadas pela instituição e até o fechamento desta edição não haviam se pronunciado quanto ao seus sistemas de saneamento. Depois de passar por Capivari e Rafard, o leito deságua no Rio Tietê, na cidade de mesmo nome e com capacidade para tratar 40% do esgoto que é produzido.

Enquanto isso, a população paga tanto pela coleta, quanto pelo tratamento de esgoto. Em Capivari, o valor da tarifa de esgoto é 90% do valor da água. Em Rafard, 70%. O DMAE explica que essa taxa é definida em conformidade com a Ares-PCJ. O dinheiro arrecadado cobre gastos com o sistema, manutenção de rede, máquinas e funcionários, uma vez que, segundo a divisão, por mais que o tratamento não exista na cidade, a coleta é realizada normalmente.

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Publicada na página 7 da edição 1144 do jornal O Semanário, em 28 de março de 2014.