Prefeitura inaugura canil da Guarda Municipal

Segundo o secretário da Defesa Social, Gamaliel de Souza, cães auxiliarão na busca de drogas e no policiamento ostensivo durante partidas de futebol

Canil da Guarda Municipal de Capivari foi inaugurado na sexta-feira (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Canil da Guarda Municipal de Capivari foi inaugurado na sexta-feira, 14 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Na sexta-feira, 14, aconteceu a cerimônia de inauguração do canil da Guarda Municipal. De acordo com o secretário da Defesa Social, Gamaliel de Souza, a corporação possui cinco cães, sendo dois da raça labrador, um pastor Belga de malinois, um rottweiler e um pastor alemão capa preta. Desses, apenas dois estão prontos para o trabalho policial. O restante está em processo de adestramento.

O objetivo, segundo Souza, é utilizar dois cães para farejamento, dois para ataque e um com dupla função. “Os animais são muito eficientes. Eles poderão trabalhar em ocorrências de busca de drogas e em situações que exijam policiamento ostensivo, como partidas de futebol”, explica. Para ele, a cidade só tem a ganhar com a implantação do canil. “Além de contribuir para o trabalho da Guarda Municipal, a utilização dos cães ajudará as polícias Civil e Militar”, afirma o secretário.

A inauguração teve a participação do prefeito Rodrigo Proença (PPS), do vice-prefeito Vitor Riccomini (PTB), de secretários e diretores municipais e de vereadores. Representantes das GMs de Itapevi, Indaiatuba e Santana de Parnaíba também marcaram presença e trouxeram os próprios cães. Ao lado de guardas de Capivari, apresentaram demonstrações de comando, farejamento e intervenção tática.

Segundo o secretário de Segurança de Itapevi, Kleber Maruxo, diversos municípios são prejudicados durante jogos realizados em praças esportivas, em que se emprega um efetivo com muitos “homens” nos estádios e, consequentemente, a população fica desprotegida nos demais pontos da cidade. No entanto, “com o auxílio do canil essa escala de serviço diminui, ou seja, não serão necessários tantos guardas, pois os cães suprem a demanda”, exemplifica.

Ao mesmo tempo, de acordo com ele os animais podem ser trabalhados nas escolas e utilizados pela Defesa Civil, em caso de soterramento. O canil está instalado no mesmo prédio onde funciona a Defesa Civil (Avenida José Annicchino, 549 – Jardim Elisa). Ele começou a ser reformado em 2013, quando a GM especializou três agentes para o policiamento com cães: Leandro de Paula, Marcos Soares e Jeferson Sustein.

Durante a cerimônia, Proença garantiu que o canil é a primeira das várias melhorias que a Guarda Municipal receberá. Para este primeiro semestre, o prefeito anunciou que a corporação terá a frota renovada. A prefeitura investirá cerca de R$ 400 mil na locação de 13 veículos 0 km, sendo dez carros e três motos.

Depois de dez anos, o efetivo da GM crescerá. A Secretaria da Defesa Social abrirá em breve concurso para contratação de novos agentes. “O último aconteceu em 2004, enquanto o penúltimo, em 1992. É muito tempo sem ampliação do número de guardas”, diz o prefeito. Além disso, por intermédio do deputado federal Salvador Zimbaldi (PROS-SP), a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) repassará R$ 300 mil ao município para modernização da Central de Monitoramento, “e há muito mais por vir nos próximos anos”, conclui Proença.

Capivari recebeu dois Labradores, um Pastor Belga, um Rottweiler e um Pastor Alemão (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Capivari recebeu dois labradores, um pastor belga, um rottweiler e um pastor alemão capa preta (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

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Publicada na página 21 da edição 1143 do jornal O Semanário, em 21 de março de 2014.

Queda e ascensão de Gustavo Castilho

Natural de Brejo Alegre, interior de São Paulo, começou a usar drogas aos 12 anos, e hoje auxilia na reabilitação de 18 dependentes químicos

Estudante de Pedagogia chegou a morar três anos embaixo da ponte (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Estudante de Pedagogia chegou a morar três anos embaixo de uma ponte (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O estudante de Pedagogia Gustavo Galera Castilho, 37, vive em Capivari desde o primeiro semestre de 2013, quando decidiu que, dessa vez, ele é quem escolheria aonde iria se tratar. Com 12 anos de idade, foi uma das incontáveis vítimas daquela velha história da turma de escola, a qual resolve experimentar a droga.

Vítima sim, pois depois que a sensação de prazer passa, alguns conseguem sair sem danos. O que não acontece com outros. Estes estão presos nas garras de um vício terrível. Isso porque a dependência química é uma doença crônica, incurável e progressiva, que se não tratada pode ser fatal.

Em 2012, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o uso de drogas por adolescentes que vivem nas capitais chegou a 9,9%, o equivalente a mais de 312 mil jovens. Em 2009, quando a pesquisa foi feita pela primeira vez, o percentual era de 8,7%.

Antes da quinta e última internação, Castilho foi levado a uma clínica psiquiátrica em Taboão da Serra, interior de São Paulo. No começo, nem ele, nem a família entendiam o que se passava, e por isso, logo na primeira indicação recebida por dona Ângela, 60, a escolha foi unânime. “Falaram pra minha mãe: ‘olha, em Taboão da Serra tem um lugar’. Mas era psiquiatria. Daí fiquei dois meses, porque nesse tipo de clínica a gente só fica para desintoxicação e à base de medicamentos. Isso aconteceu em 2002. Eu tinha 25 anos”, lembra.

Sem entender a doença da dependência, família internou Castilho três vezes em uma clínica psiquiátrica (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Sem entender a doença da dependência, família internou Castilho três vezes em uma clínica psiquiátrica (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O paulista de Brejo Alegre conta que a princípio usava para buscar aceitação, porque tinha problemas de relacionamento com a família e, ao mesmo tempo, “já queria ser adulto”. Mas ele percebeu que a droga não era brincadeira de criança quando se viu desviando dinheiro do contrato entre a Prefeitura e a Caixa Econômica Federal para comprar mais cocaína. “Na época eu era diretor financeiro da Prefeitura de Brejo Alegre. Para não ser preso aceitei a internação.”

O pai, Pedro de Paula, 60, exerceu o cargo de prefeito da cidade durante quatro anos e depois por mais oito. Deixou a política em 2012, ao eleger seu candidato. “Algumas pessoas me falavam: ‘você está queimando a imagem do seu pai. Pare com isso’.” Na época, seu Pedro não era o atual prefeito, porém, já havia sido uma vez. “Ele colocou o candidato que apoiou, e o mesmo me chamou para trabalhar. Era cargo de confiança”, menciona. “Foi uma bomba na cidade”, quando tudo começou.

Assim que saiu da clínica, Castilho perdeu o emprego. Foi quando conseguiu trabalho como motorista de uma usina. “A cidade é bem pequena. É tipo Rafard, mas tem apenas três mil habitantes e uma usina muito grande”, comenta. Contudo, ele não ficou “limpo” por muito tempo. Com intervalos de um ano, as recaídas fizeram com que retornasse para o mesmo lugar mais duas vezes.

O consumo de cocaína no Brasil mais que dobrou em menos de dez anos e já é quatro vezes superior à média mundial (0,4%), conforme dados divulgados na terça-feira, 4, pelo Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2005, 0,7% da população entre 12 e 65 anos consumia cocaína no país. No final de 2011, o valor chegou a 1,75%. Segundo a ONU, a média brasileira também supera a da América do Sul (1,3%).

Prestes a passar pelo quarto internamento, Gustavo Castilho conheceu um grupo de Narcóticos Anônimos. A partir daí, a família começou a compreender que o caçula de três irmãos estava doente e precisava de tratamento específico. Juliana, 40, a mais velha, encontrou uma clínica na cidade de Bragança Paulista, e lá o deixaram em setembro de 2012. Porém, a terapia dedicada a um homem que há três anos, entre idas e vindas, se refugiava em um barraco embaixo de uma ponte, não foi suficiente.

Castilho conheceu um grupo de Narcóticos Anônimos pouco antes da quarta internação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Castilho conheceu um grupo de Narcóticos Anônimos pouco antes da quarta internação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“Eu furtava coisas dentro de casa pra vender pra usar droga. Chegou num ponto que minha mãe trocou as fechaduras e disse: ‘aqui você não entra mais’. Esses acontecimentos me marcaram bastante.” Segundo ele, a clínica bragantina não era psiquiátrica, e sim voluntária, “mas era meio que um depósito de gente. Só tinha trabalho e desintoxicação. Fiquei quatro meses lá”.

Em pouco tempo, o desejo de usar drogas e ingerir bebidas alcoólicas falou mais alto novamente, no entanto, a quinta tentativa de recuperação seria numa clínica de sua escolha, cujo tratamento veio a ser em Capivari, a 500 quilômetros da cidade natal. “Eu vi uma propaganda num livro da Editora EME e guardei. Aí, quando aconteceu tudo de novo, e a compulsão e a obsessão voltaram eu vim para cá.”

Após mais de 20 anos refém da cocaína, Castilho recebeu alta na comunidade Nova Consciência, que fica no bairro Cancian, em outubro do ano passado, seis meses depois de dar entrada. Logo em seguida, convidaram o adicto em recuperação a fazer parte da equipe de monitores, na qual atualmente auxilia na reabilitação dos 18 internos. É a chance, ressalta, de dar aos recém-chegados o mesmo apoio e o mesmo carinho que um dia recebeu.

“Nossa, é gratificante. Hoje eu sou feliz especialmente porque gosto muito do que faço. É bom estar com o pessoal. Quando alguém chega aqui, está no mesmo estado de quando eu cheguei”, acrescenta. Ele, que se dizia “cansado dessa vida de usar drogas”, não sabe ao certo se a vontade continua. “Mas sei que não posso usar. Se eu usar a primeira vez, vou desencadear todo o processo novamente.”

A clínica, de acordo com o fundador Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, especialista em dependência química pela Universidade de São Paulo (USP), trabalha com a ressocialização desde o primeiro dia de internação. As atividades ajudam na desintoxicação, que perduram, no mínimo, 90 dias. “Os internos convivem com as pessoas da sociedade desde sempre. Eles terão as ‘fissuras’, as tendências, uma série de coisas que a gente já vai percebendo e corrigindo”, explica.

Segundo Camargo, três vezes por semana os pacientes vão à academia sob a orientação de um psicólogo e com o acompanhamento de um professor de Educação Física. Dois dias por semana, são levados para uma área de lazer, onde há campo de futebol, piscina e lago para pesca. “À noite, eles também saem: de segunda-feira, eles têm palestra na editora. Na terça, vão ao grupo de Narcóticos Anônimos, em Rafard. E na quarta-feira vão ao Alcoólicos Anônimos, no bairro Santo Antônio”, continua o especialista.

A Comunidade Psicossomática Nova Consciência fica no bairro Cancian, em Capivari (Foto: Divulgação/Nova Consciência)

A Comunidade Psicossomática Nova Consciência fica no bairro Cancian, em Capivari (Foto: Divulgação/Nova Consciência)

Ter vontade de parar é, para Castilho, o principal ingrediente da receita que destrói o vínculo com as drogas. “Pode a mãe querer, o pai, a avó; se a pessoa não quiser, acabou”. Além disso, a família também precisa de cuidados para aprender a lidar com a situação, uma vez que se tornam codependentes. “Sabe, eu deixei minha família doente, também.” O jovem recomenda, ainda, evitar se colocar em risco. “Se eu quero um refrigerante, eu não vou comprar num bar”, exemplifica.

Sobretudo, Camargo adverte que a internação deve ser o último recurso, quando o ente querido já está compulsivo, pois, de acordo com o idealizador da comunidade psicossomática, passar pelo confinamento é um procedimento desgastante. Desse modo, às famílias que percebem os primeiros sinais da dependência, aconselha-se buscar o auxílio de um psicólogo ou psiquiatra, especialistas em dependência química.

Outra opção é procurar saber se existe o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na cidade, bem como inserir o dependente químico nos fatores de proteção. “Ele frequenta alguma religião? Porque existem os fatores de proteção, que são a escola, a família, o esporte e a religião. Convivendo nesses grupos ele se sente mais protegido. Agora, caso tudo isso seja feito e nada dê certo, aí sim podemos falar numa internação.”

Todas as quintas-feiras, após o meio-dia, Gustavo Castilho vai até a clínica e fica até o meio-dia de segunda-feira, em esquema de plantão. Nas folgas, o monitor relata que divide uma singela casa com mais dois colegas, também ex-dependentes, dentro da editora, popularmente chamada de “casinha”. Este ano, passou no vestibular de Pedagogia na Faculdade Cenecista de Capivari (Facecap), e cursa o primeiro semestre. “Eu sempre gostei de crianças e de trabalhar com elas. Minha intenção é trabalhar com crianças nessa área de prevenção ou de crianças excepcionais”, revela.

Questionado sobre a sensação provocada pelo uso contínuo da cocaína, resume: “Eu já nem tinha mais consciência de que estava usando. Muitas vezes usei sem querer usar. É uma obsessão, sabe?”, constata. A dependência, segundo ele, é basicamente sinônimo de perda. “Só leva a isso. Eu quase destruí a mim próprio e a minha família. Quando você menos espera, todo mundo se afasta, você fica sozinho, perde o emprego, fica sem nada.”

E nem o namoro escapou. A namorada não aguentou a barra, conta. “As pessoas vão te ajudando uma vez, duas vezes, até que não tem mais o que fazer. Eu prejudiquei todos os que estavam perto de mim. Minha mãe, minha namorada, minha irmã. Porque os amigos são os primeiros que se afastam. Aí fica a família. E chega uma hora que a família também fala: ‘meu, não dá mais’.”

Para o fundador da Nova Consciência, Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, mesmo “curada” a pessoa não deve parar de repensar o assunto, de participar de grupos e manter a sobriedade. Hoje, Castilho dá continuidade à terapia fora da instituição, frequentando grupos em diferentes cidades. “Esse processo de recuperação é bem legal. Hoje eu sou motivado a ficar em recuperação. Eu me sinto livre. É igual o pessoal fala no grupo: tudo o que eu fiz ontem, eu vou ter de fazer hoje de novo. ‘Só por hoje’, eu consigo ficar em recuperação.”

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Publicada na página 9 da edição 1142 do jornal O Semanário, em 14 de março de 2014.

Ainda existe vida no Rio Capivari

Em meio a tanta intervenção humana, fauna e flora abundantes acompanham curso das águas que passam por nove cidades

Excesso de matéria orgânica aumenta a quantidade de aguapés no leito (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Excesso de matéria orgânica aumenta a quantidade de aguapés no leito (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Rio poluído, sem peixes ou qualquer vestígio de vida de alguma espécie. Não. Felizmente, (ainda) não estamos falando do Rio Capivari. Há exatos 24 dias do Dia Mundial da Água, celebrado anualmente em 22 de março, O Semanário percorreu um pequeno trecho do rio, desde o acesso pelo final da Rua Colonização, em Rafard, até a ponte que fica atrás da usina Raízen.

O objetivo? Observar a situação atual daquele que sobrevive em meio a tantas intervenções. E agora, somado a essa estranha alteração climática, o período de estiagem sofrido em grande parte do país, justamente numa época em que as chuvas não costumam dar trégua.

Às 9h de uma quarta-feira ensolarada, regados de protetor solar e repelente, fomos ao encontro do sargento do Corpo de Bombeiros Adelvan do Nascimento, do bombeiro municipal Sandro Alves e da coordenadora de educação ambiental Lorena de Quadros, da Diretoria de Meio Ambiente de Capivari. A ideia inicial era descer pelo menos 1% dos 212,6 quilômetros do Rio Capivari, entretanto isso não foi possível devido ao excesso de vegetação presente em seu leito. Mas essa não foi a primeira surpresa.

“Nossa, está fervilhando de filhotes de peixes”, exclamou Lorena assim que o bote entrou na água. O comentário dela resume a impressão das cinco pessoas a bordo. Além dos peixes, cágados, capivaras, pequenos mamíferos, garças e dezenas de outras espécies de aves compunham um cenário quase despoluído a olho nu, envolto de árvores, plantas e casas mal acabadas. Ribeirinhos corajosos, que sustentam a esperança de um dia não sofrerem mais com as enchentes.

Água apresenta coloração mais límpida do que o comum (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Água apresenta coloração mais límpida do que o comum (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O Rio Capivari, cuja nascente é em Jundiaí, próxima da Rodovia Engenheiro Constâncio Cintra (SP 360), passa pelas cidades de Louveira, Vinhedo, Valinhos, Campinas, Monte Mor, Elias Fausto, Capivari, Rafard e em seguida deságua no Rio Tietê, na cidade de mesmo nome. Ele nasce limpo, mas ao percorrer seu caminho sofre com a ação humana, que não só o polui depositando esgoto doméstico e industrial, como também destrói sua mata ciliar.

Mesmo com a ausência quase total de chuvas nos meses de janeiro e fevereiro, navegávamos inesperadamente por águas límpidas, muito diferente da situação encontrada em outras “visitas”, segundo Lorena. A bióloga explica que o normal seria nos depararmos com um rio de águas turvas, com odor forte e desagradável. Porém, o cenário presenciado, diz ela, pode se dar pelo aumento da concentração de nutrientes dissolvidos na água.

“Isso gera condições propícias para o crescimento da vegetação de várzea, criando abrigo e alimento para a fauna”, explica. “Nos dias anteriores ao passeio, choveu à montante, ou seja, nas cidades pelas quais ele passa antes de chegar até aqui. E isso deve ter aumentado o volume de água e diminuído, consequentemente, sua concentração”, detalha a coordenadora. Atualmente, o nível do Rio Capivari está oscilando entre um metro e um metro e dez centímetros. De acordo com a Defesa Civil, o nível normal é de 80 centímetros. “A profundidade do rio muda de tempos em tempos. Ele tem um canal principal, cuja fundura se mantém, mas as laterais vão sendo alteradas conforme a velocidade da água. Por exemplo, às vezes ela traz um pouco de areia para o lugar que era fundo, e este se torna raso”, explica o sargento.

Se fazia cinco minutos que ele havia ligado o motor, era muito. O caminho a nossa frente, assim que passamos embaixo da ponte que liga Capivari e Rafard, estava bloqueado por bambus. Impossível continuar. Imediatamente, Nascimento deu meia volta, e passamos, então, a descer o leito. A quantidade de lixo nas margens, desde sacolas plásticas e garrafas pet até marmitas e vaso sanitário era claramente notável. Mesmo assim, de acordo com Nascimento, o que vimos era quase nada se comparado com outras épocas. “É nesses ‘passeios’ que a gente vê um monte de coisa errada”, lamenta Lorena.

Tomados pela ingenuidade da natureza, do verde vivo e do vento, tão facilmente dominados e depredados cada dia mais pelo homem, algumas ideias para “salvar o mundo” começaram a surgir. Aproveitando a Semana da Água, os bombeiros acreditam que março é o mês ideal para se organizar uma espécie de “arrastão”, isto é, fazer a limpeza simbólica do rio com a ajuda da própria população.

Diversas espécies de pássaros puderam ser facilmente observadas ao longo do percurso (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

Diversas espécies de pássaros puderam ser facilmente observadas ao longo do percurso (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

“Para ir agilizando, os jornais impressos e as rádios poderiam cadastrar os barqueiros que possuem arrais (habilitação para manusear barcos)”, completa o sargento. “Eu queria fazer uma limpeza mesmo, mas o investimento é enorme”, ressalta a bióloga da Diretoria de Meio Ambiente. Entre um pitaco aqui e outro ali, chegamos à conclusão de que o ideal seria realizar um arrastão com quatro pessoas em cada barco, divulgar, chamar bastante gente, e depois expor todos os objetos recolhidos.

Enquanto isso não se torna realidade, continuamos nossa visitação. O quinteto já tinha notado uma vegetação cada vez mais constante, seguindo da beira em direção ao Centro, por cima do rio. Nada assustador, até que fomos mais uma vez impedidos de continuar o trajeto. O rio estava tomado de vegetação desde a ponte que fica atrás da usina até perder de vista. “Não podemos tentar passar, porque não sabemos qual é a profundidade ali. Pode acontecer de a hélice bater em alguma pedra. Essa vegetação é superficial, mas aquela tem raiz”, explica Nascimento, apontando os aguapés à frente e mais atrás outra espécie de vegetação de várzea, o capim fino, mais escuro.

Lorena explica que como estamos enfrentando um tempo muito seco, as plantas se proliferam devido ao acúmulo de matéria orgânica (que vem com o lixo), justamente a usada para fazer a fotossíntese. Ela serve de alimento para os peixes, mas quando se “fecha” torna-se prejudicial, pois impede a penetração da luz do sol na água. Mas esse “pepino” fica a cargo da natureza? Aí é que está. Segundo Lorena, não dá mais para deixar.

“Não dá tempo da natureza se decompor porque estamos sempre colocando mais poluentes.” Assim, o correto, detalha, é entrar em contato com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e pedir autorização para fazer a limpeza do leito do Rio Capivari e remover as plantas prejudiciais. Mais do que isso: é preciso contratar uma empresa que realize o serviço, pois segundo Lorena, hoje a cidade não tem maquinário, nem pessoal capacitado para isso.

“Sobre o passo a passo dessa medida eu já não sei te falar, porque a gente nunca precisou fazer isso.” Foi aí que passou por nós um marmitex vazio, recém-utilizado. Seria cômico, se não fosse um desrespeito ao meio ambiente. “Nossa. Custa muito colocar no lixo?”, questiona Sandro Alves. Pior que isso são os esgotos clandestinos dos ribeirinhos, que notamos no caminho de volta. O cheiro se intensifica nesses pontos, mas pelo jeito não incomoda os próprios moradores.

(Laila Braghero/O Semanário)

Rio sobrevive em meio às edificações e intervenções do homem (Laila Braghero/O Semanário)

Quase ao fim do passeio, encontramos uma bela capivara, que mal nos deixou observá-la próxima das casinhas e de pronto mergulhou na água. Tentamos segui-la, contudo, seus anos-luz de esperteza fizeram com que desaparecesse nas profundezas do rio. “Apesar das agressões, a natureza encontrou uma maneira de sobreviver”, valoriza Nascimento.

É verdade, sargento. O que deveria ser motivo de orgulho, sobretudo dos rafardenses e capivarianos, pela abundância de água doce existente, pela fauna e flora abrigadas e, porque não dizer, pela beleza natural que sobrevive em meio a tantas edificações, passa despercebido, rejeitado. No entanto, o rio sobrevive às intervenções.

As pessoas constroem até o alicerce das casas dentro do rio. Mas vem a natureza e contorna a situação. Em 1985, um poeta da região escreveu um poema falando sobre esses mesmos problemas. Chorando o Rio Capivari lamentava o mau cheiro, a cor da água e o descaso da população. Clamava por uma atitude do poder público, que diz estar sempre em busca de novos recursos estaduais e federais para os mais variados fins.

Enquanto descíamos do bote, trazido pelos bombeiros à terra firme, a pergunta estampada nos rostos era: “Pois bem, e agora? Como fica o Rio Capivari? De um lado, as plantas e os bichos lutam para se conservar em seu habitat natural; do outro, o homem teima em querer saber mais e encher o rio com sua sujeira. Apesar do aparente desinteresse das autoridades pela fonte de vida, preferimos acreditar, assim como o poeta, que um dia ainda veremos as águas claras, e um Rio Capivari há de ressurgir.

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Publicada na página 9 da edição 1141 do jornal O Semanário, em 7 de março de 2014.

Instituto Federal abre concursos para mais de 500 vagas com salários de até R$ 8 mil

Capivari é uma das 29 cidades com ofertas de emprego; campus está em funcionamento desde agosto de 2010

Mais de 400 alunos estudam no Campus Capivari (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Mais de 400 alunos estudam no Campus Capivari (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) abriu dois concursos públicos para preencher 529 vagas, desde servidores técnico-administrativos a professores de ensino básico, técnico e tecnológico. Dessas oportunidades, 18 são para trabalhar no Campus Capivari. Os salários variam entre R$ 1.562,23 e R$ 8.049,77.

Também são oferecidas vagas para os campi Araraquara, Avaré, Barretos, Birigui, Boituva, Bragança Paulista, Campinas, Campos do Jordão, Caraguatatuba, Catanduva, Cubatão, Guarulhos, Hortolândia, Itapetininga, Jacareí, Matão, Piracicaba, Presidente Epitácio, Registro, Salto, São Carlos, São João da Boa Vista, São José dos Campos, São Paulo, São Roque, Sertãozinho, Suzano e Votuporanga.

Segundo o IFSP, as inscrições devem ser feitas até o dia 12 de março, exclusivamente no site gerenciado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep): www.gestaodeconcursos.com.br. O valor da taxa de inscrição varia entre R$ 50 e R$ 100, de acordo com o cargo pretendido. Os concursos serão realizados pelo instituto, em parceria com a fundação.

Os editais completos estão disponíveis no portal da Fundep. Para mais informações, os interessados podem entrar em contato por meio do endereço eletrônico: concursos@fundep.ufmg.br.

Educação gratuita é oferecida na cidade desde 2010

O IFSP é uma autarquia federal fundada em 1909 como Escola de Aprendizes e Artífices. Reconhecido pela excelência no ensino público gratuito de qualidade, instalou-se na cidade em agosto de 2010, popularmente chamado de “Escola Federal”. Segundo a técnica em assuntos educacionais, Haryanna Drouart, o Campus Capivari oferece atualmente 38 cursos, divididos em cinco modalidades: superiores, técnicos, integrados, Pronatec e de curta duração.

Naquele ano, o prédio foi construído pela Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) com verba do Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep), para abrigar a Faculdade Cenecista de Capivari (Facecap), o que não aconteceu. Com o tempo, o Ministério Público solicitou a devolução do prédio para o Governo Federal, por meio do IFSP.

Alunos da escola Padre Fabiano cursam o ensino médio integrado no Instituto Federal (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Alunos da escola Padre Fabiano cursam o ensino médio integrado no Instituto Federal (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Feito isso, o terreno foi cedido ao instituto por 25 anos. “O prédio é nosso, mas o terreno não”, relata Haryanna. Hoje, o Instituto Federal desenvolve uma negociação com a CNEC, igualmente com todo o poder público da cidade, a fim de conquistar o terreno definitivamente, e poder pensar na possibilidade de construir novos prédios e inaugurar outros cursos. “É um diálogo que está sendo feito desde a gestão municipal anterior”, garante.

Os cursos superiores – Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologia em Processos Químicos – têm duração de três a três anos e meio e são disputados por meio da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Posteriormente o aluno deve se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), como estipula o Ministério da Educação (MEC), segundo Haryanna.

Para ingressar nos cursos técnicos – Técnico em Manutenção e Suporte em Informática e Técnico em Química – ambos com duração de dois anos, os interessados precisam prestar o “Vestibulinho”, cujo edital é lançado semestralmente pelo instituto, e ter ensino médio completo ou estar cursando a partir do segundo ano. Os 40 primeiros colocados em cada curso são convocados para a matrícula.

“Também oferecemos o curso integrado, que é o ensino médio integrado nas áreas de informática e química, com três anos de duração”, conta. Ela explica que por enquanto esta modalidade existe somente em parceria com a Escola Estadual Padre Fabiano. “No período da manhã, os alunos fazem o ensino regular na escola. Depois, no período da tarde, eles vêm aqui para fazer as disciplinas profissionalizantes”, detalha.

Os processos seletivos para os cursos de curta duração, por sua vez, não são abertos todos os semestres. Assim, para concorrer a uma vaga, Haryanna recomenda que os interessados fiquem atentos às divulgações dos processos, principalmente no site do Campus Capivari (www.ifspcapivari.com.br). As inscrições acontecem por ordem de chegada, até que se complete 20 pessoas por sala.

O Instituto Federal oferece, ainda, cursos por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), cuja matrícula também se dá por manifestação de interesse até que se alcance o número máximo de alunos por turma. Para o primeiro semestre de 2014, as inscrições estão abertas para cinco cursos: Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Biblioteca, Auxiliar de Recursos Humanos, Inglês Básico e Programador de Sistemas.

De acordo com a técnica, a escolaridade mínima exigida para fazer os cursos é determinada pelo catálogo do MEC. No entanto, alguns deles são voltados para pessoas com ensino fundamental incompleto, proporcionando oportunidade para todos. O horário das aulas, segundo ela, varia de acordo com a modalidade. “Os superiores são no período noturno. O Técnico em Química também. O Técnico em Manutenção e Suporte em Informática nós oferecemos um semestre à tarde e um à noite”, diz.

“Os cursos de curta duração a gente tenta colocar num horário que seja atrativo, às vezes no período noturno ou mais à tardezinha. Porém, dependemos do nosso espaço físico e da disponibilidade de professores. Então, em cada edital a gente lança quais serão os horários. Inclusive do Pronatec. O ano passado ele foi oferecido de manhã. Este semestre ainda não sei como vai ser, mas é sempre durante a semana”, complementa Haryanna.

Inscrições para os cursos de curta duração e do Pronatec são feitas por ordem de chegada (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Inscrições para os cursos de curta duração e do Pronatec são feitas por ordem de chegada (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Cursos enfrentam taxa de desistência de até 30%

Por mais que o IFSP ofereça um ensino atrativo pela qualidade e gratuidade, visto que a autarquia é mantida por recursos federais, ou seja, dinheiro público, o instituto ainda enfrenta dificuldades para conquistar os moradores de Capivari. Entretanto, o campus já reúne mais de 400 alunos.

“Os cursos superiores começam com 40 estudantes e assim permanecem durante pelo menos dois anos. Depois, esse número vai diminuindo. Nós temos um índice de desistência registrado em 25% a 30%”, revela a técnica em assuntos educacionais, Haryanna Drouart. Isso porque, segundo ela, o Campus Capivari recebe mais jovens de outras cidades do que da própria cidade, e nem sempre há transporte intermunicipal garantido.

Monte Mor, Elias Fausto, Rafard, Indaiatuba, Campinas, São Paulo, Guarulhos, São José dos Campos e Limeira são alguns dos municípios de onde saem os alunos rumo à terra dos poetas. “No caso de Monte Mor, por exemplo, os estudantes se organizaram e vêm de van. Mas a gente percebe que muitos deles têm bastante dificuldade de locomoção, pois algumas cidades e empresas de ônibus não oferecem transporte para Capivari”, lamenta Haryanna.

Para a técnica, a cidade precisa se preparar para receber os jovens que vêm de fora, com moradias a preços acessíveis, para que estes possam se instalar e estudar. “A tendência é que o campus cresça, mas não adianta nada oferecermos cursos de procura, não só para a região, mas para o estado, se aqui não há estrutura necessária para recebê-los”, critica.

Campus Capivari atua principalmente nas áreas de Química e Informática (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Campus Capivari atua principalmente nas áreas de Química e Informática (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Considerando que a escola fica afastada do centro de Capivari, alguns circulares fazem o trecho no início e no término nas aulas. Contudo, a ausência de ônibus nos demais horários impossibilita o IFSP de manter atividades extracurriculares em outros períodos. A problemática, garante, está sendo discutida com os vereadores e com a viação municipal MM Souza Turismo.

Em longo prazo, o Instituto Federal tem como objetivo proporcionar alfabetização de nível médio para os jovens da cidade. Caso se torne realidade, a iniciativa pode auxiliar as três escolas estaduais de Capivari, ao distribuir melhor os estudantes e contribuir, consequentemente, para uma melhor qualidade de ensino e aproveitamento das aulas.

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Publicada na página 9 da edição 1140 do jornal O Semanário, em 28 de fevereiro de 2014.

Calor demais e chuva de menos: a vida por uma gota?

Falta de chuva prejudica o abastecimento de água em cidades da capital e do interior de São Paulo

Capivari é abastecida por três mananciais, entre eles o Milhã, cujo nível diminui um centímetro por dia (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Capivari é abastecida por três mananciais, entre eles o Milhã, cujo nível diminui um centímetro por dia, segundo o Saae (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Terra rachada. Sol a pino. Moradores com as mãos sobre os olhos, observando o horizonte e se perguntando quando virá a próxima chuva. O que parece ser a trama da composição Asa Branca, do Rei do Baião Luiz Gonzaga, é o que tem passado os moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, lembrando as cenas de seca no sertão nordestino.

O calor extremo e a falta de chuva neste início de ano, além de levar à morte diversas espécies de peixes, como o ocorrido no Rio Piracicaba, devido ao pouco oxigênio presente na água, e de tirar a vida de aves em criadouros, como no Rio Grande do Sul, onde as interrupções constantes no fornecimento de energia elétrica provocaram a morte de mais de 450 mil frangos, faz lembrar também das inúmeras palestras sobre o uso racional da água, a qual os alunos eram submetidos nas escolas, e ainda são.

O principal sistema de abastecimento de água do estado, o Cantareira, que inclui as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), está operando abaixo do limite crítico de segurança, que é de 5%. Até o dia 31 de janeiro, o volume útil era de 4,63%, segundo os ministérios públicos de Campinas, Piracicaba e o Federal. De acordo com o Consórcio PCJ, se não chover de maneira significativa, o sistema entrará em colapso até o dia 29 de abril.

Embora o governador de São Paulo não tenha decretado racionamento de água, ao contrário de outros estados, as cidades têm emitido alerta de economia urgente, oferecendo descontos nas tarifas como meio de incentivo ou até mesmo multa para as demasias. Em nota divulgada na sexta-feira, 7, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Capivari proibiu o uso da água para a lavagem de carros, calçadas, quintais e o abastecimento de piscinas.

De acordo com a autarquia, o consumidor que descumprir as regras terá que pagar multa de R$ 72,40, com penalidade de R$ 362,00 e corte no fornecimento de água por três dias, caso o morador volte a desperdiçar. A cidade é abastecida por três mananciais – Milhã, Água Choca e João Lau – os quais são responsáveis por 13 reservatórios de distribuição de água tratada e 37 poços artesianos.

Segundo o Saae, o manancial Milhã diminui um centímetro por dia, enquanto o João Lau opera apenas com 50% da capacidade normal. Até o momento, o Água Choca permanece com nível estabelecido. “O calor excessivo induz ao consumo exagerado, contribuindo com o desperdício de muita água tratada”, explica o superintende do Saae, José Luiz Cabral, e conta que a autarquia tem recebido inúmeras solicitações para o abastecimento de piscinas, o que resulta em mais desperdício ainda.

“Porém, não estamos mais atendendo aos pedidos. Convém lembrar que neste período ‘piscininhas’ de dois mil a cinco mil litros são bastante usadas, com reposição constante de água”, completa.

Para o meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno se deve a uma massa de ar quente anormal para os meses de janeiro e fevereiro, que impediu que as frentes frias entrassem no país, assim como bloqueou o ar úmido vindo da Amazônia, submetendo os brasileiros a muitos dias de calor, com a temperatura subindo a cada dia.

“Foi o janeiro mais quente da história e a primeira semana de fevereiro está mais quente ainda”, diz Schneider. Porém, o meteorologista observa que a umidade do ar tem aumentado nos últimos dias e garante que na sexta-feira, 14, e no sábado, 15, vai chover em todo o interior paulista. “Principalmente na sexta, pode ter chuva prolongada e mais forte. De domingo a quarta-feira pode haver sol e nuvens durante o dia e chuvas rápidas à tarde”, comenta.

Schneider prevê, ainda, que as mudanças significativas serão percebidas nas próximas semanas, provavelmente entre os dias 20 e 23, com áreas de chuva em todo o estado. O problema, segundo ele, é que como está muito quente, as chuvas podem vir em forma de tempestades perigosas. “Temporal é a presença de calor e umidade. Quando o ar é muito quente, ele se eleva rapidamente na atmosfera e como já existe umidade ocorre a condensação da nuvem”, explica.

Ainda de acordo com o meteorologista, o interior das nuvens de tempestade, as quais costumam cair em pontos localizados, contêm vento forte, granizo e chuva.

O consumo exorbitante de água devido ao calor intenso e à baixa umidade do ar foi comprovado na cidade de Rafard, por meio de uma análise comparativa entre os três últimos anos feita pela Divisão Municipal de Água e Esgoto (DMAE) da cidade. Em janeiro de 2014, a população consumiu 52.849.000 litros de água, 12,5% a mais do que no ano anterior (46.210.000 litros). Em 2012, o consumo foi ainda menor, 45.624.000 litros.

No entanto, o chefe da divisão, Élcio José Ricomini, esclarece que por conta dos altos investimentos realizados em 2013 com a troca de moto bombas, Rafard ainda não terá cortes no fornecimento. “Apesar do aumento da capacidade de abastecimento, percebemos um acréscimo excessivo no consumo. Com a estiagem a captação é afetada, por isso é preciso economizar”, diz Ricomini.

A chuva permanece abaixo da média desde dezembro e somado ao calor e ao ar seco, faz com que a evaporação da água seja maior. Consequentemente, o nível dos rios cai mais rápido, segundo Marcelo Schneider, do Inmet. De acordo com o especialista, o volume médio de chuva na região, em janeiro, costuma ser em torno de 250 milímetros. Em fevereiro, aproximadamente 180.

Assim, o meteorologista afirma que para melhorar a situação é necessário chover acima da média – constantemente – durante o final do mês e início de março. “Não adianta chover 100 milímetros em um único dia”, exemplifica. Igualmente, as precipitações precisam acontecer na cabeceira dos rios (próximo à nascente), “então vamos colocar aí uns 250 a 300 milímetros de chuvas gerais, não temporais localizados”. E a partir daí, tudo pode começar a se normalizar.
Conscientização

Para economizar o pouco de água que existe, hoje, nos lençóis freáticos, os cidadãos têm o dever de adotar algumas medidas básicas que, a princípio podem ser um pouco desconfortáveis, mas valem a pena, pois ajudam o planeta a sobreviver: tome banho rápido; não lave carros e calçadas; ensaboe toda a louça antes de enxaguá-la; acumule as roupas para utilizar a máquina de lavar na capacidade máxima. Faça o mesmo com a louça; deixe a torneira fechada enquanto escova os dentes; atenção com vazamentos dentro do imóvel. Corrija-os o mais rápido possível.

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Publicada na página 5 da edição 1138 do jornal O Semanário, em 14 de fevereiro de 2014.